Com a palavra: nossa amiga radioamadora !
- por Deby PY2TEY
- 18 de mai. de 2015
- 6 min de leitura
Minha história com o radioamadorismo vem literalmente de berço, pois meu pai Arnaldo PY2DHA (SK) foi licenciado quando eu tinha apenas alguns meses. Morávamos em Piracicaba e minha mãe me conta que eu ficava no colo dele enquanto ele fazia contatos com o mundo através de um Delta. Em Novembro de 1964 houve uma tragédia em Piracicaba, que foi o desabamento do Edifício Comurba, o qual fez meu pai permanecer no rádio por horas para dar informações sobre os sobreviventes ou não. As portas de casa ficaram abertas para receber pessoas que queriam avisar parentes. Mas essa história fica para outra oportunidade. Só sei que meu pai recebeu uma homenagem do então prefeito Mendes Thame na Prefeitura da cidade muitos anos depois e eu o acompanhei. Para quem se interessar em ler sobre a matéria que saiu no jornal segue um link.

Com 4 anos de idade viemos para Campinas e meu pai teve que se desfazer da estação. E eu só voltei a ter contato com o rádio quando eu estava com 14 anos e nos mudamos para o prédio em que moro hoje. Nessa época ele adquiriu primeiro um equipamento de VHF e depois instalou uma torre no alto do prédio, comprou outros rádios e colocou uma antena direcional. Foi muito trabalhoso descer os cabos do 24º andar até o 9º, me lembro do barulho pra furar o concreto e trazer os cabos pra dentro do apartamento, mas foi o que me salvou quando resolvi ativar minha estação novamente. O síndico do prédio naquela época era amigo do meu pai e tinha conhecimento da importância do nosso hobby, não causando nenhum tipo de problema para a instalação da estação.

Arnaldo PY2DHA - meu pai e meu mentor no hobby
No começo eu corujava os 2 metros com assiduidade e adorava ficar ouvindo meu pai falar com os colegas em italiano, castelhano e arranhar o inglês. Acabei prestando exame para a classe C com 16 anos e iniciando nos 2 metros, passava noites no rádio, revezando com meu pai. Enquanto ele falava eu estudava, quando ele deixava o rádio eu corria para o shack. Logo o CW me chamou a atenção, me lembrei de ter brincado com a transmissão do Código Morse ainda criança naqueles radinhos de walk talk. Comecei a aprender com o Bandeira PY2BON em uma freqüência direta nos 2 metros e depois fomos fazer um cursinho com o saudoso Tenente Rinaldi PY2BOP. Meu pai, com 52 anos, me acompanhou nessa e se empenhou em aprender o que muitos acham um “bicho de sete cabeças”. Não só ele aprendeu como passou a praticar o CW até os últimos dias de vida. Prestei exame para classe B faltando uns dias para completar 17 anos, o que não era permitido naquela época, em 1979, mas por algumas falhas fui inscrita, fiz os exames e alguns dias depois fui chamada para comparecer ao Dentel. Lá fomos nós, meu pai e eu sem saber do que se tratava. Dra.Walquíria me deu os parabéns por ter tirado 10 em todas as provas e me pediu desculpas por eu ter que esperar 1 ano para poder operar como classe B e ainda ter que esperar mais 1 ano para poder prestar o exame para promoção da classe A.
Fui bem ativa durante muitos anos, em VHF e HF, sempre participando de concursos em fonia e CW, mas a vida foi mudando, eu mudei de casa, fiquei sem estação, vieram os filhos e o rádio ficou de lado. Daí meus pais se mudaram para uma casa e eu acabei me mudando com meus filhos para o antigo apartamento onde tudo começou. Mas ainda levaria alguns anos para o rádio voltar em definitivo. Foi quando, em 2007, entrei na faculdade de Jornalismo e precisei fazer um trabalho. Na hora me veio a ideia de entrevistar um grupo de radioamadores antigos que ainda se reúnem em uma praça aqui em Campinas aos domingos e meu pai fazia parte desse grupo. O reencontro foi emocionante, vieram todas as boas lembranças à tona e eu fiquei desesperada pra voltar a falar no rádio novamente. Mas não tinha condições de montar uma estação e começamos a improvisar. Tentei uma antena loop magnética na sala com um qrp KX1 da Elecraft, com o qual participei do meu primeiro contest na fase nova, o QRS-10, promovido pela Labre-SP em 2009. Testei antena portátil na janela, mas não deu resultado. O jeito foi esticar uma bigode de gato pra 40, 20, 15 e 10 metros no topo do prédio, já que a torre tinha ficado, apesar da EPTV ter instalado uma câmera nela. Isso causou algumas discussões com o atual síndico do prédio. Com o passar dos anos fui adquirindo equipamentos e todo tipo de manipuladores de telegrafia, num total de 14 (8 pica-paus, 2 iâmbicos, 2 vibros, 1 artesanal e 1 eletrônico), alguns ganhei de presente.

Meu grande amigo, meu pai, faleceu em Dezembro de 2011 e eu acabei trazendo pro meu QTH toda a estação dele.
Minha estação está assim composta: Icom IC-718, Kenwood TS140-S, Yaesu FT-857, Yaesu FT-1000MP Mark-V Field, Elecraft KX1, acoplador Soundy manual AT-500B, acoplador automático LDG AT-200 Pro, Linear RM Italy KL-500, fonte Soundy SD-30 e fonte chaveada Montel MTAC1232-Ham plus. Do meu pai vieram além do FT1000, o transceptor de CW Pinel 1, Icom IC-2200H e Yaesu CPU2500R e 1 vespa dourada.

Deby em sua estação com os filhos - Dia das mães radioamadoras! :)
Em 2013 começamos a fazer a troca das antenas e concluímos em 2014. O responsável por esta parte foi o amigo Zanotto PY2ZQ, que me fez perder o medo de encarar subir no telhado do prédio e participar de cada detalhe na instalação das antenas e descida dos cabos com mais de 50 metros de altura cada um, passando por dentro da lixeira desativada e tendo a companhia do síndico por algumas vezes. As antenas são as seguintes: Comet GP15 (50 – 144 – 430 Mhz), Steelbras Vertical VHF 2x5/8 (144 Mhz), Morgain 40-80 e Diex (10-15-20). Mas meu maior problema é a interferência dos elevadores, principalmente nas freqüências de 3.500 e 7.000 Hz, esta última a minha preferida.

No alto de um edifício de 24 andares, as antenas de Deby !
Desde a minha primeira visita à Labre no novo endereço, me coloquei QRV, atuando como examinadora voluntária nos exames de telegrafia nas cidades mais próximas. Foi uma experiência muito gratificante, pois além de fazer muitos amigos, pude sentir de perto as dificuldades dos colegas com relação à telegrafia bem como a satisfação de outros por terem se saído bem na prova. Sempre num clima descontraído antes das provas, passei dicas, sites de treinos de CW e até tentei tirar vícios logo no começo de aprendizado. Depois dos primeiros exames eu já levava um bloquinho para anotar os nomes dos candidatos e indicativos (quando possuíam) para depois acompanhar no site da Labre quem havia passado. Hoje não podemos mais participar dos exames, apenas o pessoal da Anatel. Mesmo assim, no exame que teve em Guararema ano passado na Convenção Nacional de Radioamadorismo, eu estava lá acompanhando alguns colegas que fariam exame e os amigos da Anatel me convidaram a permanecer com eles organizando os exames e acompanhando um colega deficiente visual. Hoje estou atuando junto à Labre-SP como conselheira, uma experiência totalmente nova para mim. O Conselheiro além de fiscalizar as ações da Diretoria Estadual, representa os associados da Labre e porque não os radioamadores em geral? Digo que somos o ouvido e a voz dos colegas, ouvimos reclamações, críticas, elogios, pedidos e levamos até as reuniões, que são mensais. Tem sido um aprendizado diário.

Minhas únicas experiências em transmissões fora do QTH base foram quando participei do CQMM em Poços de Caldas no ano de 2012 operando como ZW4C no CRAPOCA, ao lado dos amigos Rodinei PY4LH e Fernando PY4SKY, levando o 2º lugar de clube, e de operações portáteis em Ubatuba. Esta última foi uma estação que montamos dentro do QTH de parentes, esticando uma dipolo de fio entre árvores em uma praia de preservação ambiental e que funcionou por quase 3 anos, tendo participado de alguns contests nesse período e feito alguns bons contatos à distância com quase nenhum ruído. As antenas eram recolhidas no final da estadia e como a vegetação mudava, as antenas ficavam cada vez de um jeito diferente, melhor ou pior.
Infelizmente, pela falta de tempo, não pratico tanto o hobby como gostaria, mas corujo bastante, pois trabalho a maior parte do tempo em casa com o rádio como companhia constante. Sou entusiasta do CW, mesmo sendo uma cedablista medíocre e procuro estar presente nos concursos. Assim como todos os colegas, guardo muitas histórias na lembrança.
Agradeço aos colegas da repetidora Princesinha da Sorocabana, Silvio Mazetto PY2TGL e Cristiano Borin PU2UCB (o qual me fez esse pedido com tanta delicadeza e simpatia), pela oportunidade de poder contar um pouco da minha história bem resumida.
Deby - PY2TEY
Da redação: É por isso que este trabalho de radioamadorismo na internet é emocionante e complementa nosso trabalho (hobby) nas ondas do rádio. Aqui podemos mostrar em texto, fatos e fotos emoção....Não é emocionante? 73 Deby e a todos - PU2UCB Cristiano Borin.















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